domingo, julho 13, 2008

O Machado e a foice

Voltando pra casa e pro Burilando e pro trabalho. Chegando em Fortaleza um montão de gente disse que tinha visto várias e várias matérias sobre a Flip. E se minha família e meus amigos viram, vocês devem ter visto também. Então resta-me dizer o que eu vi estando lá. E eu vi muita afetação. Mais do que eu imaginava ver. Mais do que me alguns me alertaram que eu veria. Acho que talvez por falta de visão minha, por uma visão limitada, esquerdistazinha, o que vi foi uma espécie de Programa Flash do mundo literário, em que todo mundo era uma espécie de Amaury Júnior que ficava zanzando em torno dos escritores, procurando saber o que estavam fazendo, o que estavam lançando, como pensam, como andam, o que bebem.

Mas para provar que não sou só chata mas também sei me divertir e ver ironia nas coisas, organizei alguns pontos para burilar um bocadim.

1. Sobre o homenageado
Eu sou chata...: A palestra do Shwartz sobre o Machado foi boa. Boa no sentido de dar vontade de ler os livros dele. Ele falou essencialmente do Dom Casmurro, relacionando as mudanças de abordagem crítica do livro às mudanças sociais brasileiras. Resumindo, num esquema patriarcal o Bentinho é um coitado e a Capitu uma devassa. Num esquema não-patriarcal, o Bentinho é um neurótico e a Capitu é uma mulher.
Mas sei me divertir...: A exposição de caricaturas do Machado feitas por crianças na Flipinha foi a coisa mais genial que vi sobre o autor. Dei ótimas risadas.
E ver ironia nas coisas...: Uma cartomante que ficava numa das ruazinhas de Paraty, não parava de receber clientes.

2. Sobre as mesas
Eu sou chata...:As mesas de debate mais se aproximavam de uma conversinha promo-editorial, salvo algumas exceções em que o caráter do escritor conseguia falar mais alto que o esquema de mershandising.
Mas sei me divertir...:
Adorei a mesa com o Chico Sá e o Humberto Werneck. O Wernek lançou uma biografia do Jayme Ovalle, músico e pensador que influenciou vários modernistas e que criou umas das filosofias mais hilárias que já ouvi, a da Nova Gnomonia. Muito bom também ver o mediador da mesa com Inês Pedrosa, Zoe Heller e Cintina Moschovich, levando pau dasmeninas, no sentido mais feminino da coisa.
E ver ironia nas coisas...: Foi genial ouvir o Noll com sua voz de velhinho triste lendo trechos de seus livros. Quem conhece a literatura do Noll, com todas as suas perversões, pode imaginar o quão desconexo e engraçado isso soou.

3. Sobre as badalações e conversinhas paralelas
Eu sou chata...: Ouvindo umas conversinhas em cafés e restaurantes, descobri que para muita gente ser escritor tá tete a tete a ser publicitário. Você faz livro pra vender, pra se vender, pra ficar famoso, pra virar um projeto patrocinado pelo Governo, pra ter vida boa e na próxima Flip ser reconhecido na rua de Paraty. Isso não é invenção minha, é só um resumo ácido do que ouvi. Fiquei mais tranqüila em ser publicitária. E descobri que desse jeito não quero ser escritora.
Mas sei me divertir...: O evento criado por Marcelino Freire, Chacal e comparsas, a Picareta Cultural, foi uma delícia. Música muito boa (que pra variar tinha um pezinho em Recife), gente legal, divertida, embriagada e dançante. E o Chacal, ai ai, o querido Chacal, dizendo rouco um dos poemas mais bobos, honestos e bacanas da literatura brasileira:
uma

palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma

palavra maldita é uma palavra

gravada como gravata que é uma palavra
gaiata como goiaba que é uma palavra gostosa
E ver ironia nas coisas...: Depois da Flip a minha viagem continuou. Fiz o caminho velho da estrada Real ao contrário, de Paraty para Ouro Preto. A parte menos esperada e menos planejada da viagem foi a mais legal. Como haveria de ser.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A MELHOR cobertura da Flip! Quem mais iria se tocar da cartomante? É por isso q eu sou amiga da Lúcia. E tb pq se ela for ser escritora não vai ser boçal ;)

sábado, julho 19, 2008  

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