segunda-feira, junho 30, 2008

Conversa via-email com um certo mineirinho. Mas aceite como uma resenha.

O CONTEXTO

Eu já falei sobre o Chico Lopes aqui no Burilando. Lembrando: Comentei um texto dele no Cronópios e ele me respondeu. Começamos a conversar via email e ele me fez a gentileza de me mandar um dos seus livros, o Dobras da Noite. O Chico é escritor de Poços de Caldas. Além do Dobras, ele escreveu Nó de Sombras e participou da coletânea "Cenas da Favela". Chico também é tradutor.

O EMAIL


Oi Chico,

Eu demorei demais para ler seu livro, delicado e querido presente. Bastou abrir e encarar o primeiro conto, para o ler todo quase de uma tacada só. Adorei a firmeza com que você conduziu cada personagem, fazendo com que não sejam nunca previsíveis mas não saiam de um eixo narrativo seguro. Gostei muito do jeito delicado e generoso com que você mostra as vilezas humanas. Gostei em especial do conto do ingênuo baitolinha que se apaixona pelo professor. Lembrei do filme Felicidade, a que você certamente deve ter assistido. Uma coisa de se permitir encarar de frente e até, porque não, rir do sórdido.

Você disse uma vez que não ia gostar tanto do livro, porque sou ligada a textos curtos e tal. Há escritores que leio e digo: nossa gênio, eu nunca vou conseguir escrever assim. Guimarães Rosa, Gabriel Garcia Marques, Eça de Queiroz, etc. Há escritores que leio e digo: nossa gênio, queria tanto escrever assim. Oswald de Andrade, Samuel Beckett, Leminsk, Dalton Trevisan. Você é da primeira turma. Você é o legal inatingível, porque consegue contar fazendo literatura. O lance das sereias lá de Blanchot, o encanto se faz no silêncio e não no canto em si.

Muito, muito obrigada pelo presente, que foi além do gesto de mandar um livro.

Aí assim, sem querer abusar, qual o jeito mais fácil de comprar os seus outros e inclusive outro desse seu? Estou querendo usar você pra presentear outra pessoa. Um médico escritor daqui, que quebrou um galhão pra minha família.

Abs
Lúcia

A RESPOSTA

Cara Lúcia:

Puxa, faz tempo você não escrevia, tanto que me surpreendi com teu e-mail no duro! Mas, não faz mal, porque é sempre bem vinda, é um prazer papear com você. Supunha que, por alguma razão de família ou trabalho, você estivesse ocupada ou viajando ou algo assim. E, como também sou dado a longas ausências, a prolongados silêncios com correspondentes, não cobro nada de ninguém.
Em todo caso, valeu você aparecer tardiamente com o comentário, porque tuas observações são muito animadoras. Fiquei feliz, comovido até, por essa leitura atenta.

E realmente a história do garoto lá, apaixonado pelo professor, me foi inspirada por um colega de classe homossexual que tive no ginásio. Não aconteceu nada daquilo tal como conto, mas o tal colega era um daqueles garotos desmunhecadíssimos, evitados pelos outros, bom aluno, mas sofria toda espécie de gozação (a crueldade humana, você sabe, não tem limites). Por vezes, sentindo que eu era mais acessível e mais compassivo, desabafava coisas comigo, me mostrava o que escrevia, e, entre os escritos, uma declaração de amor a um professor (que ele nunca mandou).

Claro que isso foi o germe de uma coisa que só frutificou uns 40 anos depois em literatura...Pra escritores observadores da alma humana, com uma vocação ferrada como eu, o passado nunca passa.

Ouvi muitas histórias dele e de outros homossexuais, em épocas diferentes,
e o meu conto é uma condensação fictícia do que me entrou pelo ouvido.
Para mim, os Vitinhos desse mundo são dilacerantes, dignos de compaixão mesmo, mas também há algo de paródico, de tristemente cômico ou patético nisso tudo. Uma paródia dolorosa da terrível verdade de que, no machismo, os fracos, delicados e excluídos sempre acabam pagando muito caro. Creio que, se eu não tivesse adotado um tom de paródia, de certo distanciamento, o conto não teria a eficácia devida, poderia degenerar em melodrama. Mas há quem chore muito ao ler esse conto. Alguns leitores me confessaram isso, rasgadamente.

Mas, meus contos favoritos do livro (se é que isso conta, porque autor e leitor nem sempre têm a mesma opinião) são "A sala acesa", "Trio", "O manco", "As vozes" e "Cavalo e sombra". Este último, foi inspirado num personagem real também, o boiadeiro João, que conheci na minha infância no interior de São Paulo, uma grande figura humana.

Estou com dois livros prontos, um de novelas - "Jogos furtivos" - e outro de contos, o terceiro do gênero, "Hóspedes do vento". Ano passado, em outubro, fui o contista de um mês todo (quatro publicações) no Correio Braziliense. E bom que fui convidado a publicar, sob remuneração! Isso é raro de acontecer neste Brasil sem luz para os escritores...

Os quatro novos contos entraram nesse meu terceiro livro (um deles inclusive, forneceu o título) e eu os envio aí, em anexo, pra você conhecer.
Obrigado pelo reaparecimento, e, claro, vamos continuar papeando, sempre que possível.

Chico Lopes




ONDE ESTÁ O CHICO?


Na livraria Travessa
No Instituto Moreira Sales -
IMS

quarta-feira, junho 25, 2008

Enquanto isso...

terça-feira, junho 24, 2008

Qual a diferença entre a cobertura do Burilando na Flip a dos milhares de blogs e sites que vão cobrir a Flip?




É que só a cobertura do Burilando é do Burilando, oura!

DE VOLTA 30 DE JUNHO

Novidade 1: Agora o Burilando vai ser assim: direitinho, atualizado toda semana. A partir de 30 de junho e depois toda segunda terá post novo.

Novidade 2: Dia 1º de julho embarco às 6h da matina, no vôo 1994 da GOL, com destino ao Rio de Janeiro. De lá sigo para Parati, obviamente, pra FLIP.

Novidade 1 + 2: Unindo o agradável ao legal à bessa, vou usar a volta do Blog para contar as aventuras de uma jovem candidata a escritora fracassada no mega, ultra, fashion, badalado e glamouroso Festival Internacional. Acho que vai ser divertido. Pelo menos pra mim, vai.