domingo, julho 27, 2008

Escritores que admiro (ou Porque nasci para ser podre)

"Se nascer devendo
E vencer querendo
Ainda assim não se vender"
Nação Zumbi

No post sobre a Flip falei do desenvolvimento da minha atimpatia às afetações literárias. E cada vez ando me convencendo e acreditando mais que literatura é encontro, não evento. Encontro com as mazelas de ser humano e não com a generosidade dos amigos. Literatura e tudo quanto é arte, né?

Ando querendo questionar um monte de coisa. Coisas que acho que ainda não tenho maturidade intelectual, nem porra louquice suficiente para questionar. Coisas que quando questiono, no meu atual estágio de vida, viro mais uma "doidinha do contra". E um dos grande pesadelos da minha vida é ser uma "doidinha do contra". Aquela figura mimada, riquinha, que é do contra porque é in, porque é fashion.

Minha sorte é que há gente com maturidade e porra louquice suficiente para questionar essas coisas, de maneira que, em meus acessos de abuso (doidinha do contra), eu posso pelo menos os usar como álibes.

Semana passada, ganhei dois álibes dos bons. Os dois estão no Cronópios. Um é a entrevista com o Marcelo Mirisola e o outro é um texto que fala do Valmir Jordão, um poeta de Recife, porreta demais. A entrevista é em capítulos, dá pra ver um pedacinho todo dia (são 5) e o texto é curtinho e delicioso.

domingo, julho 20, 2008

Não é assim grande coisa - Continhos, contecos e outras coisas pequenas



Bicho que consome
Verbete de homem

Uma polaroid sem garantia
Um naco de pão
Uma muleta no escuro
Um jogo de cartas
Uma liquidação
Um bilhete sem volta
A última moda da vedete
Um Guevara de grife
Um chinelo de luxo
Um espremedor de suco
Um removedor de manchas
Um motor de charrete
A obra esquecida do último artista vivo
A música mais perdida da rádio
Um best-seller encalhado
Um jornal de amanhã
A peça rara de toda loja de antigüidades
Um vale a pena ver de novo reprisado
Um gibi em fascículos
A última cerveja quente do freezer
A esteira acoplável ao carro
A nova novidade do mercado
A alma do negócio
O não é só isso
O que sempre tem, mas no momento tá faltando

domingo, julho 13, 2008

O Machado e a foice

Voltando pra casa e pro Burilando e pro trabalho. Chegando em Fortaleza um montão de gente disse que tinha visto várias e várias matérias sobre a Flip. E se minha família e meus amigos viram, vocês devem ter visto também. Então resta-me dizer o que eu vi estando lá. E eu vi muita afetação. Mais do que eu imaginava ver. Mais do que me alguns me alertaram que eu veria. Acho que talvez por falta de visão minha, por uma visão limitada, esquerdistazinha, o que vi foi uma espécie de Programa Flash do mundo literário, em que todo mundo era uma espécie de Amaury Júnior que ficava zanzando em torno dos escritores, procurando saber o que estavam fazendo, o que estavam lançando, como pensam, como andam, o que bebem.

Mas para provar que não sou só chata mas também sei me divertir e ver ironia nas coisas, organizei alguns pontos para burilar um bocadim.

1. Sobre o homenageado
Eu sou chata...: A palestra do Shwartz sobre o Machado foi boa. Boa no sentido de dar vontade de ler os livros dele. Ele falou essencialmente do Dom Casmurro, relacionando as mudanças de abordagem crítica do livro às mudanças sociais brasileiras. Resumindo, num esquema patriarcal o Bentinho é um coitado e a Capitu uma devassa. Num esquema não-patriarcal, o Bentinho é um neurótico e a Capitu é uma mulher.
Mas sei me divertir...: A exposição de caricaturas do Machado feitas por crianças na Flipinha foi a coisa mais genial que vi sobre o autor. Dei ótimas risadas.
E ver ironia nas coisas...: Uma cartomante que ficava numa das ruazinhas de Paraty, não parava de receber clientes.

2. Sobre as mesas
Eu sou chata...:As mesas de debate mais se aproximavam de uma conversinha promo-editorial, salvo algumas exceções em que o caráter do escritor conseguia falar mais alto que o esquema de mershandising.
Mas sei me divertir...:
Adorei a mesa com o Chico Sá e o Humberto Werneck. O Wernek lançou uma biografia do Jayme Ovalle, músico e pensador que influenciou vários modernistas e que criou umas das filosofias mais hilárias que já ouvi, a da Nova Gnomonia. Muito bom também ver o mediador da mesa com Inês Pedrosa, Zoe Heller e Cintina Moschovich, levando pau dasmeninas, no sentido mais feminino da coisa.
E ver ironia nas coisas...: Foi genial ouvir o Noll com sua voz de velhinho triste lendo trechos de seus livros. Quem conhece a literatura do Noll, com todas as suas perversões, pode imaginar o quão desconexo e engraçado isso soou.

3. Sobre as badalações e conversinhas paralelas
Eu sou chata...: Ouvindo umas conversinhas em cafés e restaurantes, descobri que para muita gente ser escritor tá tete a tete a ser publicitário. Você faz livro pra vender, pra se vender, pra ficar famoso, pra virar um projeto patrocinado pelo Governo, pra ter vida boa e na próxima Flip ser reconhecido na rua de Paraty. Isso não é invenção minha, é só um resumo ácido do que ouvi. Fiquei mais tranqüila em ser publicitária. E descobri que desse jeito não quero ser escritora.
Mas sei me divertir...: O evento criado por Marcelino Freire, Chacal e comparsas, a Picareta Cultural, foi uma delícia. Música muito boa (que pra variar tinha um pezinho em Recife), gente legal, divertida, embriagada e dançante. E o Chacal, ai ai, o querido Chacal, dizendo rouco um dos poemas mais bobos, honestos e bacanas da literatura brasileira:
uma

palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma

palavra maldita é uma palavra

gravada como gravata que é uma palavra
gaiata como goiaba que é uma palavra gostosa
E ver ironia nas coisas...: Depois da Flip a minha viagem continuou. Fiz o caminho velho da estrada Real ao contrário, de Paraty para Ouro Preto. A parte menos esperada e menos planejada da viagem foi a mais legal. Como haveria de ser.

domingo, julho 06, 2008

Parati, para vós. Porque entre outras coisas, cachaça libera trocadilhos "poéticos".



Então, estou em Paraty, que aprendi aqui que, quando não é para gerar trocadilho, se escreve com ipisilom mesmo no final.

Como prometi que o Burilando seria atualizado toda segunda, estou adiantando o post de amanhã, já que estarei na estrada.

Acho que não expliquei com detalhes, mas vou daqui subir até Ouro Preto de carro. Carro alugado, que foi o primeiro estresse que vivi. Impressionante como a galera que aluga carro faz terror. Você sai com a certeza de que algo muito ruim vai acontecer e que é realmente necessário pagar todo tipo de taxa extra de seguro contra terremotos, incêndios e pedestres suicidas que eles te oferecem.

Os outros estresses ficaram por conta dos "poetas" de Paraty. Como havia de se esperar num evento literário, pululam ""poetas"" por todos os cantos. E como todo """poeta""" é incrivelmente desinimido e generoso em dividir sua """"poesia"""" com os mortais, eu tive que ouvir muita """"poesia"""". Mas tudo bem. Chatices, resmungos e soberba minha à parte, Paraty é uma cidade linda, de uma galerinha de humor deliciosamente ácido (ou fingem bem para os turistas) e de cachaças ma-ra-vi-lhosas. Ou seja, é quase tudo que eu pedi a Deus.

Da Flip mesmo, eu vou contar o que achei aos poucos para não embaralhar. E bem o que achei mesmo, sem querer teorizar, tá? E bem aos poucos porque sou lenta das idéias e vou contar com os ciber cafés que for encontrando no caminho. Acho que, bem na verdade, só vou conseguir organizar tudo, depois da quinta-feira quando voltarei de viagem.

Para quem quiser uma visão mais profissional, rápida, atualizada e eficiente da coisa, há informação de ruma. Só pra começar, os vídeos de todas as mesas estão na página da Flip no You Tube. Das que assisti recomendo em especial a "Sexo, Mentiras e Videotape" com a Inês Pedrosa, Cíntia Moscovich e Zoe Heller; e a "Conversa de Botequim" com o Xico Sá e Humbero Wernek. Recomendo porque são as mais divertidas no sentido divertido da coisa. A "Formas Breves" com Ingo Schulze era a que tinha me gerado mais expectativa, já que sou ligada no lance das narrativas curtas, mas foi mais fraca que caldo de bila em fim de feira, apesar de ter me feito comprar o livro do alemãozinho.

Para sacar o que rolou e ainda tá rolando tem também um blog da Flip com tudo tim-tim por tim-tim e o próprio site oficial.

Até a próxima lan house.