Sábado retrasado saí com um casal de amigos para jantar. No restaurante, eles se encontraram com uma turma de amigas e todos nos sentamos juntos. O normal ao ser apresentada a novas pessoas é ser mais gentil que a minha média e ficar calada quando discordo de algum ponto de vista para não parecer antipática.
Como a comida e o serviço estavam muito ruins, começamos a meter o pau não só no restaurante onde estávamos, mas em vários outros da cidade. Até que uma das pessoas da mesa citou uma pizzaria, que no meu conceito é muito legal, tem personalidade e trata a pizza com bastante dignidade. Ou seja, catchup e maionese nem pensar. Mas a bronca dela não era por isso, a questão era que ela tinha pedido uma porção extra de parmesão pra colocar numa pizza que originalmente não levava parmesão e a casa negou, que parmesão extra só em massa. Ela insistiu e eles fizeram ela pagar pela porção extra. Ela ficou danada da vida. E eu, que não costumo discordar quando não conheço bem a pessoa, porque gosto que depois comentem entre si “nossa, aquela amiga dos meninos era bem legal, né?” , abri um sonoro e enfático “mas a pizzaria tem razão, ora!”. E sim, teve esse “ora”, só pra completar a rebeldia.
Ficou um silenciozão, mudamos de assunto, eu meio que ponderei e conseguimos retomar conversa sem ninguém puxar o cabelo de ninguém.
No outro dia, meu marido comentou que havia achado engraçado o meu jeito, que eu não costumava aplicar o método tufo assim com quem mal conheço (é, o cara saca). E como ando numa onda de auto-conhecimento e outras lombras, fiquei pensando se tinha sido mesmo a caipirinha a culpada da minha sinceridade brusca. E talvez não. O que incomoda é ver que todo mundo acha normal colocar parmesão onde não tem. Não é uma questão de ficar amarrado a uma tradição, é de respeitar a proposta da coisa.
Um exemplo do que quero dizer é a versão reggae da Praieira do Nação Zumbi. Vocês já ouviram? É estranhíssimo. Como um amigo e aficcionado por Nação bem disse, não dá pra levar a revolução naquela moleza. Nada contra o reggae. Bob Marley é revolucionário, mas a proposta dele de revolução cabia na forma. A Praieira não cabe. Eu sou uma mongol em arranjo musical e coisa e tal, não sei dizer teoricamente porque, devia saber, não sei, mas um reggae não comporta a Praieira. Como o jazz meio lounge não comporta nem The Doors, nem Bob Marley (sim, eu já escutei isso). Mais uma vez: nada contra inovar, nada contra mudar. Quando nasci Bob e Morrison já tinham morrido. Quando peguei realmente gosto pelo Nação Zumbi e toda a galera de Recife, o Chico já tinha trocado os caranguejos pelas minhoquinhas da terra. Meu papo não é sobre purismo é sobre o poder que as coisas têm. É o discurso que elas trazem e a necessidade dele ser mantido ou ampliado.
Minhas desculpas a quem discordar: mas parmesão e reggae não caem bem em qualquer receita.