segunda-feira, novembro 19, 2007

O sertão vai virar

Quinta-feira, 15 de novembro. Três horas e meia de viagem. Calor escaldante e ar sufocado por uma cidade no meio do sertão e entre monolitos que esquentam, esquentam e esquentam. Nenhuma instalação disponível. Banheiro, só o do posto de gasolina. Saída às 13h de Fortaleza, retorno às 01h da manhã do dia seguinte. Ao todo, umas seis horas de espetáculo. Sim, há os 20 minutos de intervalo. Se pegar fila pra comprar água e comer perde o lugar tão disputado. O acento é duro. A ventilação natural varia de nenhuma pra um soprinho na nuca.

Na sexta, exausta, alucinada e com desenteria, mal consigo trabalhar. Aproveito o almoço para comprar a passagem de ônibus pro sábado. Ingressos não havia mais em Fortaleza.

Sábado, 17 de novembro. A mesma coisa, só que dessa vez com saída uma hora mais cedo. Fila grande pra disputar um dos ingressos disponíveis no próprio teatro. Precisou da camaradagem do bilheteiro pra grantir o nosso. Encontrei um banheiro limpinho num supermercado. A peça começou uma hora mais cedo, às 18h. Saí às 1h e a coisa ainda corria solta.

Os atores mantêm o pique em 5 dias de peça, cada uma com 6 a 7 horas de duração, todos ficam no palco durante quase todo espetáculo.

Matéria diz que um casal de Recife, que assitiu à peça lá, veio ao Ceará só para rever.

Amiga minha tinha ficado de ir só quarta, quinta e sexta. Voltou hoje, segunda, pela manhã.

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Nas matérias sobre a encenação dos Sertões aqui no Ceará, em Quixeramobim, a maioria da galera tá falando dos peladões, das cenas de masturbação, da platéia ficando sem roupa. Eu só me questiono, porque se consegue oferecer tanto de si a uma encenação? Que desprendimento é esse que fez eu ficar sentada ali sentindo a bunda formigar, mas sem a cabeça cansar? Que coisa é essa que faz a gente ver o que seria escatologia como inerente, como natural?

Eu acho que isso é teatro. É arte. É gente. E nada pode ser mais sacana que ser simplesmente isso.

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Ontem, na missa de domingo, tenho certeza que houve um belíssimo sermão do padre de Quixeramobim falando da obscenidade da peça, pedindo satisfação do prefeito e cobrando dos fiéis que participaram da pouca vergonha que se confessem e façam sacrifício. Mal sabe que todos os possíveis já foram oferecidos.

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Vi poucas pessoas de Literatura. Nenhum professor conhecido. Nenhum colega da faculdade. Nenhuma figurinha. Sertões é um livro, não é isso? Referência, não é isso? Adaptado por um cara que pode ser chamado no mínimo de criativo. Estranho não ter visto gente de Literatura lá. Eu conheço poucas pessoas de Literatura, que assim seja.

1 Comments:

Blogger Carlos Alberto said...

Eu queria ter ido, mas nem fui.

Também não conheço muito gente de literatura.

E também penso o mesmo sobre o lançe da arte.

sexta-feira, novembro 23, 2007  

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